05 de Fevereiro de 2018
Segue matéria de extremo interesse concebida por Marcelo Claro, blogueiro e
empresário:
Apesar do crescimento nos últimos anos, setor ainda enfrenta debates sobre a
qualidade do ensino.
Historicamente, o Brasil nunca conseguiu oferecer uma educação considerada
adequada para todos os cidadãos. Essa é, para alguns estudiosos, uma das
grandes causas da desigualdade social do país. No entanto, com a expansão
do número de vagas no ensino superior por causa dos programas sociais como
o ProUni, e com o crescimento de instituições de ensino nos últimos anos,
como a Unopar, a qualidade assumiu posição central nos debates sobre o
acesso de mais pessoas à educação.
Para a professora Rita Tarcia, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
a qualidade não pode ser dissociada da quantidade de ofertas e oportunidades
para a formação profissional. Ou seja: mais pessoas estudando não significa
que a educação melhorou. “Precisamos construir uma nova qualidade, como
dizia o educador Paulo Freire, que consiga acolher a todos e a todas.
Qualidade significa melhorar a vida das pessoas, de todas as pessoas. Na
educação, a qualidade está ligada diretamente ao bem-viver de todas as
nossas comunidades”, explica.
Tarcia foi uma das autoras das análises da situação da EAD no Brasil
publicadas no último censo da Associação Brasileira de Ensino a Distância
(ABED), em outubro.
Segundo ela, a qualidade do ensino na modalidade EAD se estabelece a partir
de uma reunião de fatores que, articulados entre si, definem as condições
favoráveis para a aprendizagem. “Todo o processo de um ensino a distância
deve ser estudado para identificar e definir quais os elementos comuns que são
significativos para a qualificação da prática educativa”, diz.
Segundo a ABED, o Brasil tem hoje cerca de 135 mil graduandos em
licenciatura e 49 mil pós-graduandos latu sensu. A categoria de especialização
latu sensu é a que possui mais ofertas de cursos: são 1.098 grades totalmente
à distância. Para os autores do relatório, isso indica que muitos profissionais
brasileiros buscam formação rápida e que os recoloque mais qualificados no
mercado de trabalho.
Alguns estudiosos da área educacional apontam também que a qualidade do
ensino pode ser mensurada a partir da própria percepção do aluno, e não de
indicadores oficiais ou números paralelos. O argumento é que a qualidade não
está unicamente no conteúdo, mas sim na interatividade do processo, na
dinâmica do grupo, no uso das atividades, no estilo do professor e no material
que se utiliza.
A importância da qualidade no ensino se vê, no entanto, também na atenção
que as entidades internacionais e estatais dão ao tema: em 2003, por exemplo,
a UNESCO, braço das Nações Unidas para a cultura, publicou o documento
Alcançando as metas educativas, em que diz que a educação é um “meio de
promoção da equidade”.
No mesmo ano, o Brasil criou, por meio do Ministério da Educação (MEC), seu
primeiro padrão de referências de qualidade para o ensino a distância,
atualizado em 2007 para dar conta da expansão do setor. Mesmo não tendo
força de lei, as regras são consideradas orientações fundamentais e servem
também como padrões de regulamentação, supervisão e avaliação dos cursos
oferecidos pelas instituições.
Uma das exigências do MEC é que um projeto político-pedagógico de um curso
a distância precisa ter aspectos pedagógicos, recursos humanos e
infraestrutura. Para Tarcia, no entanto, o tema “qualidade” ainda não foi
devidamente observado pelas autoridades brasileiras. “O último decreto sobre
EAD, de maio de 2017, considerado hoje o marco regulatório da ensino a
distância, cita o termo qualidade apenas uma vez. Considerando ser esse
decreto o orientador dos processos de regulação e de supervisão do MEC, é
necessária uma revisão do documento a partir de uma perspectiva inovadora,
inclusiva, transparente e sistêmica”, finaliza.
Fonte: Diario da Amazonia e www.moodlelivre.com.br